Publicado em 20/05/2008 | Juliana Vines
O Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), proposto pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, em abril do ano passado, destinou R$ 210 milhões para educação técnica e tecnológica só neste ano e R$ 690 milhões até 2011. Está prevista também a abertura de 170 mil novas vagas na rede federal em dois anos e a inauguração de Institutos Federais de Ensino Superior (Ifets), anunciada no fim do ano passado.
A oferta dos cursos superiores em tecnologia praticamente dobrou em apenas dois anos. Passou de 1.804 em 2004 para 3.548 em 2006, mostram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep). Mas o número ainda é considerado pequeno se comparado com os bacharelados e licenciaturas.
“A expansão do ensino técnico e tecnológico é um indicativo de desenvolvimento econômico, mas ainda estamos muito longe da meta que queremos alcançar”, analisa Getúlio Marques Ferreira, secretário substituto da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do MEC.
A meta, diz Ferreira, é triplicar as vagas no ensino técnico e tecnológico a cada três anos. “O objetivo é reverter o quadro do ensino superior no Brasil. Enquanto nas empresas e indústrias para cada engenheiro existem dez técnicos e tecnólogos, são formadas por ano apenas 800 mil pessoas em tecnologia e 3 milhões em bacharelado ou licenciatura”, comenta.
Às vésperas dos cem anos
Trazida pelos europeus ainda no Brasil Colônia e oficializada em 1909 com a criação das primeiras Escolas de Oficinas Artífices, a educação profissional cresceu junto com a industrialização. “Na década de 70, essa formação foi impulsionada pelo crescimento da indústria automobilística. Como não existiam profissionais qualificados, muita gente resolveu partir para os cursos de tecnologia”, explica Osvaldo Vieira do Nascimento, diretor acadêmico da Fatec Internacional e autor do livro Cem anos de ensino profissional no Brasil (Editora IBPEX, R$ 60) .
Nem sempre essa modalidade de ensino foi alvo de investimentos. Em 1998, o governo federal decidiu que a educação tecnológica só poderia ser mantida pelo estado ou pela iniciativa privada. “Então surgiu a demanda para as faculdades particulares, o que contribuiu para que houvesse a expansão”, aponta Maurício Alves Mendes, assessor de graduação e ensino a distância da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Só em 2004 o governo percebeu que o gasto deveria ser visto como um investimento e a legislação foi modificada. “A educação tecnológica é indispensável para o modelo de desenvolvimento que adotamos. Os laboratórios são caros, mas o retorno para a sociedade é certo”, afirma Ferreira.
Sem preconceito
Quando foi aprovada no processo seletivo para ser assistente de marketing em uma empresa do ramo hospitalar e laboratorial, Izabel Cristina Galebe concorreu com candidatos que tinham feito bacharelado e até pós-graduação. “Lembro que respondi uma pergunta sobre marketing graças a um conteúdo que vi no curso”, conta. No início deste ano, ela terminou a graduação em Tecnologia em Marketing na Faculdade de Tecnologia Opet. Apenas seis meses depois, já conseguiu duas promoções.
“O mercado muda constantemente e esses cursos acompanham essa dinâmica”, pontua Antonio Gonçalves de Oliveira, pró-reitor Acadêmico do Centro Universitário Unicuritiba. Embora o mercado receba muito bem os profissionais vindos de cursos de tecnologia, a sociedade ainda tem uma espécie de preconceito e, muitas vezes, coloca-os abaixo dos bacharelados. “Onde existe preconceito é por desconhecimento. É preciso diferenciar o curso técnico do superior de tecnologia e também derrubar o mito de que a educação tecnológica só forma pessoas para trabalhar com informática, robótica e eletrônica. A tecnologia também pode ser processo.”
Os cursos técnicos de nível médio, seja o integrado, o concomitante ou o subseqüente, não concedem diploma superior, já os cursos tecnológicos são uma graduação como qualquer outra. A equivalência não quer dizer que os dois profissionais sejam iguais. Enquanto o bacharelado ou licenciatura dá uma formação mais ampla em uma determinada área do conhecimento, o superior de tecnologia é focado em uma subárea não tão explorada no bacharelado. “De certa forma, trata-se de um profissional mais restrito. Mas isso não quer dizer que ele não possa crescer ou atuar tão bem ou até melhor que um bacharel”, analisa Vanessa Santamaria, diretora geral da Faculdade de Tecnologia Opet.
É uma questão de foco. “Se uma pessoa quer ser um grande pesquisador e ter uma carreira acadêmica, o mais indicado é que ela procure o ‘ensino convencional’, já aqueles que têm uma visão pragmática e querem interferir no processo produtivo devem ir para a área tecnológica”, esclarece Ferreira.
Perfil do aluno
Antes do curso superior, Izabel já tinha começado a fazer licenciatura em Matemática. Não chegou a concluir porque sempre trabalhou com comércio ou marketing e queria investir na carreira. Já Sandro Rodrigues da Luz fez o curso técnico em meio ambiente no Senai com o objetivo de ter uma nova profissão. “Sempre trabalhei com eletrônica e tinha interesse na área ambiental.” O curso foi de nível médio subseqüente e teve a duração de um ano e meio. Durante as aulas, Sandro teve de abandonar seu emprego em elétrica para procurar estágio. “Larguei um emprego onde ganhava três vezes mais para estagiar”, lembra.
O público da educação profissional é diversificado. É o adolescente que resolve fazer o ensino médio integrado; aquele que procura uma nova ou primeira formação ou apenas o profissional interessado em atualização.
Hoje, muitos jovens recém-egressos do ensino médio decidem fazer um superior em tecnologia. É o caso da estudante Francielly Maria Lucavei, que vai tentar o vestibular para Radiologia na UTFPR. “Prestei só Medicina por três anos e agora resolvi diversificar. Pretendo fazer os dois cursos. O difícil vai ser conciliar”, comenta. A estudante, de 20 anos, acredita que a formação específica pode auxiliar no exercício da profissão.
Um profissional mais humano
As pessoas que procuram a educação tecnológica estão em busca do mesmo objetivo: especializar-se para o mercado. A especialização, no entanto, pode não ser uma vantagem quando em excesso. “Não pode se aprofundar demais em uma área e esquecer do resto. Mesmo focado em uma área específica, deve-se estar sempre aberto a novos conhecimentos”, opina João Barreto, diretor regional do Senai.
Não basta saber só como operar uma certa tecnologia. O mercado exige boa formação acadêmica, experiência na área de atuação e capacidade de adaptação. “O perfil do sistema educacional mudou pela própria modernização e abertura econômica. A formação das pessoas passou a ser direcionada para o trabalho em equipe e pela versatilidade. É a idéia dos empregados empreendedores, que entendem como é o modelo de empresa onde trabalham e fazem o possível para que os resultados sejam melhores a cada dia”, diz Barreto.
A demanda por profissionais especializados depende muito da região onde o curso está localizado. Uma localidade com tradição no setor de serviços tem espaço para técnicos e tecnólogos em turismo e hotelaria. Os grandes centros são boas áreas para os profissionais de gestão de marketing e recursos humanos. Já em um pólo industrial é comum encontrar as especialidades em logística e processos. “Não vamos ofertar um curso de agronegócios em Curitiba. Mas se for para uma região como Cascavel ou Guarapuava seria um curso muito atrativo”, comenta Oliveira.
Para saber quais são as demandas do mercado, os institutos de educação pesquisam diretamente com as indústrias. “Existe esse diálogo entre a indústria e as instituições”, cita o diretor do Senai.
Barreto diz que quem está planejando iniciar uma carreira tecnológica é preciso pensar em uma profissão que não tenha prazo de validade. “Atividades ligadas à qualidade de vida têm mais espaço e sempre terão. Tanto em serviços pessoais quanto a produção de bens.”
Vanessa destaca que na informática também sempre há demanda profissional. “É comum que os alunos consigam uma colocação logo no primeiro ano de curso porque, mesmo com a oferta de profissionais, a escassez ainda existe.” Outras áreas em crescimento são a comunicação, gestão de recursos humanos e de marketing e gestão de meio ambiente.
Quando Sandro Rodrigues da Luz decidiu cursar o técnico em meio ambiente, mesmo sendo uma área recente, ele tinha certeza de que seria promissora. “O cuidado com o meio ambiente é um setor em crescimento já há algum tempo. Pesquisei, fui conhecer a estrutura do curso e conversei com professores. Só então tomei a decisão”, conta.
Depois de escolher é só estudar bastante. “É comum pensarem que a graduação tecnológica é mais fácil porque é mais rápida. Pelo contrário, o nível de exigência é muito alto. Pode ser que o aluno tenha o diploma mais rapidamente, mas terá de estudar muito”, alerta Vanessa.
fonte: http://portal.rpc.com.br/gazetadopovo/ensino/conteudo.phtml?tl=1&id=767924&tit=Cursos-para-quem-busca-foco-na-carreira
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