terça-feira, 20 de maio de 2008

Aula via web ganha espaço nos EUA

Cerca de 3,5 milhões de americanos fizeram cursos on-line recentemente.Professora posta aulas da sala de casa e alunos acessam de qualquer lugar

Joseph Berger Do New York Times

A sala de aula de universidade do futuro é a sala de jantar de Janet Ducks, na East Chocolate Avenue. Não há quadro-negro, nem carteira e, mais obviamente, não há alunos. Duck ensina no programa de mestrado em administração de empresas da Pennsylvania State University's.

Ela fica sentada durante várias horas por dia de jeans e chinelos felpudos à sua mesa de jantar, que está lotada de desenhos feitos com crayon por seu filho Elijah, de 6 anos, além de ombreiras da fantasia de Halloween de Olivia, sua filha de 9 anos. É algo bem no estilo mãezona. Nesta atmosfera caseira, a animada Duck mexe num laptop e posta o conteúdo das lições, leituras e questões para seus dois cursos de “gerenciamento de recursos humanos”, que falam de tópicos como avaliação de desempenho e recrutamento.

O software educativo permite que seus 54 alunos possam se logar de qualquer lugar a qualquer momento e postar respostas impressionantemente extensas, o equivalente a um blog sobre o curso. Recentemente, a classe trocou experiências adquiridas a duras penas sobre como os gerentes lidam com funcionários medianos. Esses alunos, em sua maioria por volta dos 30 anos, são gerentes e profissionais tentando aumentar suas habilidades e não podem estar numa sala de aula da Penn State todos ao mesmo tempo.

Uma mulher é pilota da força área americana em missões no Afeganistão; outros são viajantes internacionais e fizeram comentários na semana passada sobre Tóquio, Atenas, São Paulo e Copenhagen. Duck não pode estar presente na Penn State com freqüência, principalmente por causa de seus filhos. Ainda assim, ela e outros professores ajudarão alunos a conseguirem o MBA em agosto do ano que vem por um custo total de US$ 52 mil, sendo que cada um dos lados mal terá pisado numa sala de aula convencional.

Um em cada cinco universitários fez curso on-line
Bem-vindo ao admirável mundo novo da educação on-line. É um mundo com o qual muitos de nós, quer gostemos, quer não, teremos que lidar - seja como alunos, pais que pagam mensalidade ou empregados.

Quase 3,5 milhões de estudantes universitários ou de graduação, um em cada cinco, fizeram ao menos um curso on-line no último outono, o dobro dos cinco anos anteriores, de acordo com a pesquisa feita em 2.500 campi e publicada na semana passada numa colaboração entre a Fundação Alfred P. Sloan, a diretoria da universidade e o grupo de pesquisa universitária Babson.

Aparentemente, o resultado do estudo é assustador. O primeiro impulso do autor desta reportagem foi lembrar de uma aula universitária dada por Irving Howe, que lia os poemas de Robert Frost com ternura e algo de ameaçador, de um modo que demonstrava o respeito do poeta pela sinistra beleza da natureza. Esses poemas não seriam apreciados com a mesma riqueza on-line.

Cursos on-line engatinham
Mesmo assim, agora tais temores não fariam sentido. O estudo mostra, em seus pormenores, que tal crescimento não está tão próximo. Algumas poucas faculdades privadas, que são alvo de tanta ansiedade nesta temporada, estão apenas engatinhando nesse campo, tipicamente oferecendo cursos on-line para estudantes estrangeiros ou para aqueles que são preguiçosos demais para fazer um curso de matemática às 8h da manhã.

No entanto, algumas fizeram anotações; por exemplo, a Universidade de Columbia já há alguns anos oferece mestrado em alguns campos de engenharia. Ainda assim, o crescimento é maior em faculdades comunitárias, programas profissionais como administração e educação, escolas on-line especializadas, como a Universidade de Fênix e universidades públicas como a Penn State e a Illinois, que se sentem obrigadas a oferecer aulas para alunos que mora muito longe do campus.

E espera-se que os números cresçam parcialmente porque no ano passado o congresso americano retirou a requisição de que metade dos cursos fossem no campus, medida que os críticos viram como incentivo às “fábricas de diploma”. Andrew Delbanco, professor em Columbia, afirmou secamente que seria impossível colocar seu seminário sobre guerra e cultura on-line porque “a energia e espontaneidade da discussão entre pessoas sentadas juntas numa pequena sala de aula, não pode ser reproduzida por comunicação eletrônica”.

Sua declaração, e isso não é surpresa pra ninguém, veio por e-mail. Isso porque vivemos, seja isso positivo ou não, num mundo conturbado em que as pessoas passam boa parte de suas vidas em aviões, em que profissionais são obrigados a aprimorar continuamente suas habilidades, onde amigos preferem falar pela tela, via e-mail, do que cara-a-cara.

Aprendendo com posts
É instrutivo para os céticos conversar com os alunos de Duck – on-line, é claro. Eles apontam que os comentários são mais pensados e pormenorizados do que observações espontâneas feitas em sala de aula. Os alunos aprendem tanto com os posts uns dos outros, que são feitos com base em informações do mundo dos negócios real, quanto com os instrutores, afirmam eles. E Kevin Krull, um executivo de tecnologia, ressaltou o fato de que os introvertidos, relutantes para falar em sala de aula, podem se exibir com seus conhecimentos on-line.

Para aqueles que não vêem com bons olhos os cursos on-line, como se eles fossem uma espécie de “sopa aguada”, Duck e seus alunos dizem que cursos como o seu no campus mundial da Penn State – a divisão on-line da universidade, com 300 cursos para mais de 7.500 alunos graduados e não-graduados – requerem muito mais horas de trabalho; as discussões não se limitam ao tempo em sala de aula. Eles confessam, porém, que sentem falta da capacidade de ler expressões faciais e corporais que confirmam quando um determinado tópico foi realmente compreendido.

Cursos on-line talvez não sejam o ideal para matérias como laboratório de ciências ou teatro, mas podem funcionar para a informação básica e análise necessária para uma avaliação de história ou para a edição necessária para um curso básico de redação.

Ainda assim, mesmo nesses campos muitos professores se sentiriam perdidos on-line. Duck, uma respeitada instrutora que ensinou da maneira convencional durante nove anos e ensina on-line há cinco, afirma que “não voltaria a ensinar numa sala de aula nem que dobrassem meu salário”. Seu trabalho está na fronteira da educação numa economia global, acredita ela. Em sua sala de jantar, seus filhos às vezes ficam ao seu lado enquanto ela ensina, e ela não pede que se afastem. “É bom para eles ver isso em ação”, disse ela. “Este será o mundo deles...”

fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL164828-5604,00-AULA+VIA+WEB+GANHA+ESPACO+NOS+EUA.html

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